sexta-feira, 11 de julho de 2008

Confrito de gerassões

Depois que a gente ouve alguém dizer "confrito" ao invés de conflito, nós, da velha geração, sentimos que o nosso idioma está frito, com trocadilho ou sem. Então melhor é escrever gerassão, pois pelo menos lembra girassol, uma bonita flor, e nos faz sentir bem. Lembro, no primeiro ano de escola, há tempos perdidos na poeira do passado....bem, poeira, pra mineiro; se é paulista, seria na garoa do passado, pois tudo muda neste Brasil, de estado para estado. Mas como dizia, no primeiro ano escolar, eu lia: "O leao, a, o, til...leão, matou os antilopes" E a professora, daquelas bem doces, que a mãe da gente dizia: Aqui sou sua mãe; lá na escola, a professora é sua mãe e seu guia. E era mesmo. Então a professora me corrigia: - Quer dizer então, seu sabichão, que o leão é a favor dos Lopes. Ele mata todos que são antilopes? A gente corava, olhava de soslaio para os coleguinhas, parecendo nessa hora que todos estavam dando suas risadinhas. E a professorinha: - É antílope, seu cabeça de abóbora! Olha a palavra e você vai ver que existe um assento no i. Então a entonação é aí! E a gente na hora percebia que o tal de acento, não era uma cadeira para a pessoa sentar, e aprendia que o leão realmente mata antílopes e não antilopes e que abóbora sem o tal acento, ficaria abobora. Era a tal de fonética, que hoje foi morta pela cibernética. Imaginem só uma professorinha daquele ido tempo, entrar numa sala de bate-papo da Uol e visse o que se escreve naquele "colégio". Ela ia ter até terçol, com tal sacrilégio! Ler bem e bem escrever, esse era e é, o nosso dever. Já imaginaram quando dois namorados virtuais...acho que é virtual que se chama hoje tudo que é boçal. Mas imaginemos dois namorados da Internet se encontrando no mundo real. Eu creio que a conversa seria mais dolorosa que corte de gilete. - E aí, mina. C q tc?...Quer dizer...cê quer conversar? - Nom, e vc? - Nom sei. Pq a gente se encontrou aki? - C tceu dizendo k qria. - Ah, é? - É. - De ond vc tc?...Quer dizer...De onde c é? - SP. E vc? - Tb. - Hummm... - Hummm, mesmo. - Vamos trocar de sala? - K sala? A gente tá no jd! - É mesmo! Pisei! - É pisou mesmo. Qt anos? - 18. E vc? - 21. - H ou M? - Pô, meu! M, cl! (cl deve ser claro) - Ah, é! - E vc? - K tem eu? - H ou M? - Se liga, gata. Vamo voltar pro teclado. Lá a gte se dá melhor, cada um do seu lado. - Tá falado! Já imaginaram Shakspeare ouvindo uma conversa assim entre um Romeu e uma Julieta cibernéticos. Ia ficar ruim. O homem certamente bateria a mão na testa e diria: Ai de mim! E, como diria meu genro, que certo dia me falou que o pai dele quase morreu de "patife", eu, na hora, achei que o velho era um velhaco (ai, trocadilho de novo!). Mais tarde descobri que o homem tivera hepatite e não "patife", como o filho dizia. Então, este mesmo genro meu diria que o conflito não é só de geração, mas também de "consumição"! E não é que ele estaria certo? Nós, da velha geração e outros nem de gerações tão velhas assim, não entendemos o que é Ipod e nem sabemos se é de comer ou beber; pensamos que música é música mesmo, sem saber que hoje é MP3; e RAM, para nós, continua sendo um batráquio. Num forno de microondas, após ler e reler o manual mil vezes, vamos acabar aprendendo a esquentar leite e estourar pipocas; e os tais de DVDs então? A gente sabe que passa ou grava filmes, mas como fazer o danado funcionar, já é outro negócio...Controle remoto, nem se fala. A gente aprende a usar, entre dezenas de teclas, a Play e Stop. Celular é outro ET para nós. Primeiro a gente pensou que era um telefone móvel, o que facilitaria muito, mas depois vimos que um celular serve para tocar música, acessar Internet, mandar torpedos, tirar fotos, filmar e mais uma pá de coisas. Como telefone mesmo é o que ele é menos usado... E, pra dizer a verdade, até os da geração atual, apesar que eles sabem tudo sobre MSN, jogos on-line e celulares, fora isso, eles entendem de baladas e de...e de...de...o que será mesmo que esses jovens, futuro da nação, entendem a mais? Ah, sim! Lembrei. Eles entendem de filmes, principalmente aqueles mais sangrentos, tipo Serra Elétrica, que até parece espirrar sangue na tela; eles sabem todos os nomes das bandas que estão na parada, conhecem como ninguém as grifes da sua turma, sacam de brincos, piercings e tatuagens. Eles, como lemmings, seguem uma tribo e confraternizam da opinião de todos (ou todos aceitam a opinião de um), por exemplo, de algum provável líder que disser: "Pô, é isso aí, meu!". Todos vão acatar essa opinião profunda e pragmática. E o mais duro é que na nossa geração, quando nossos pais diziam que devíamos ouvir os mais velhos, a gente aceitava, com todo respeito. Infelizmente, como os mais velhos foram ficando mais sacanas também, a gente percebeu que canalha também fica de cabelos brancos. Também nossa geração aprendeu a colar a mão direita ao peito e cantar hinos cívicos e a respeitar a pátria. Mas depois, com tristeza, mesmo sabendo que a pátria era a gente mesmo, vimos que a camarilha política estendeu seus tentáculos e há mais de 20 anos foram transformando a pátria amada em pátria dilapidada. O poder que demos a eles, através do voto obrigatório, foi usado como germe de uma doença ruim, com foco infeccioso em Brasília e se alastrando por estados e municípios. E aí, nesse mundo de Muricí, ficamos cada um por sí, na base do quem pode mais, chora menos, tendo como base de caráter a "lei de Gerson". E aí nossa geração viu que tudo ficou muito ruim. E apostamos tudo em nossos filhos e netos. Mas já era tarde. Se nós ficamos sem saber que apito tocar, mais perdidos que cego em tiroteio do velho-oeste, eles, a atual geração, obviamente já nasceram sem rumo. E, neste mundo de babacas e ladrões a que chegamos, é fácil empurrar os bigbrothers da vida para eles, junto com os Ipods, MP3, celulares atômicos e toda imbecibilidade criada pelo mundo consumista a que eles estão submetidos. Mas o pior de tudo é que esta roda viva consegue o principal e mais diabólico objetivo político-capitalista, que é impedir que os nossos jovens pensem. Sem ler, sem cultura, sem pensar e formular opiniões próprias e, claro, sem ideais, a não ser o de consumir, eles são fáceis de serem manipulados por quem quer que seja. Formamos hoje, gerações mais antigas e as mais novas, uma pátria que é como uma árvore. O povo é o tronco, que a todo custo sustém a copa, que é o poder político. Mas dia mais, dia menos, o tronco cairá, levando de roldão a copa, pois deixaram que morresse o principal sustentáculo da árvore: as raízes...

2 comentários:

Unknown disse...

Queria uma professora igual a sua! unf! rsrsrs...
Adorei o texto miga, se ta ficando expert hein!

Rica Passaro disse...

Pq as pessoas sempre acham o "tempo" delas foi o melhor?? Pq nossos avos acham que o tempo deles era melhor do que o tempo dos nossos pais, que por sua vez falam que o tempo deles era melhor que o nosso e nós já estamos falando que nossa infância foi melhor que as das crianças de hoje......que coisa....mas que a nossa infância foi melhor, isso foi....hahahaha